Nos últimos meses, os dias parecem horas. Eu, com os pensamentos sempre a mil, tento, com meus passos lentos, acompanhar a rapidez da mente e dos dias que se transformam em horas. Tenho aprendido mais a valorizar os minutos, como quem olha para um grão de areia e consegue ver o que vai além dessa pequena formação. Ali, na contemplação dos minutos, consigo ver a vida que passa por mim e deixa rastros invisíveis, tal qual um grão de areia soprado pelo vento, que se vai antes mesmo de ter a chance de delimitar aquele lugar como sendo o seu. Do grão, só resta mesmo a vaga lembrança, que logo se vai também. Que falta faz um grão de areia? O vazio dos minutos, porém, faz o contrário - nos marca justamente pela falta que faz - é a mais valia da alma, é o relógio velho exposto em um brechó qualquer, desprovido de qualquer valor, já que não marca alucinadamente o passar do tempo como antes. Enquanto isso, o grão de areia, embora desprovido de qualquer posse, que lhe faça a pena olhar com mais atenção, segue o vendaval, como quem se rebela - quase um selvagem ao olhar mais puritano de quem só enxerga em um relógio, um relógio. Prefiro ficar com o grão de areia que, ao se encontrar livre de qualquer tipo de propriedade que lhe faça merecer um lugar ao lado do relógio, resiste a seguir os passos daqueles para quem os dias já se transformaram em horas e não conseguem mais ver que em um relógio, ainda que velho e quebrado, sempre existe a possibilidade de algo a mais.
domingo, 30 de abril de 2023
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